quinta-feira, dezembro 11, 2014

SORRY

É difícil,
Eu sei
Coisas boas são raras
A partida mais
Ainda
Que fiquem
Toques
Cheiros
Líquidos
É difícil

Eu sei

Sensações transcendentais
Profundas ainda
Que não fiquem mais
Toques
Cheiros
Líquidos

É difícil

Eu sei

Mas nunca
Foi.

sábado, setembro 06, 2014

Quantidade


Um
Dois
Três
Passos
Sobrepondo obstáculos
Vértebras

Um 
Dois 
Três
Toques
Afundando na maciez
Pele

Um 
 Dois 
 Três
  Laços
                                                         Embaraçando a certeza
                                                         Fios

                                                        Um
                                                         Dois
                                                        Três
                                                       Aromas
                                                         Embriagando pragmatismo
                                                        
                                                       Um
                                                         Dois 
                                                        Três
                                                         Atos

                                                        Dois
                                                        Brados

                                                       Um
                                                        Dia

terça-feira, agosto 12, 2014

Ah! Felicidade!

Me disseram que você vai bem. Eu prontamente agradeci a informação inútil não requerida e sem objetivo algum. 
"E muito bem", ressaltaram. Novamente. Algo sem necessidade de ser e estar.
E como se não bastasse: "Mudou. Achou a felicidade". Ah vá! Quem se importa?

EU é que vou bem.
EU é que estou muito bem, obrigado.
Casei, tenho dois filhos adoráveis, uma linda mulher, uma casa de se invejar. Tomo meu 12 anos, assistindo meu futebol na minha full HD, comendo meu pistache iraniano. Férias? As últimas em Cáncun, com a família toda. TODA, porque não gosto de miserê. 
EU é que vou e ESTOU bem.

Felicidade?
[...]
Não ouviu falar que é composta de momentos? Só fala da sua? 

Nem sempre os meninos são adoráveis, minha mulher não é linda todo o tempo e a casa, bem, precisa de reparos. 12 anos amarga e troco pelo chopinho - lembra dos chopinhos do boteco da esquina do teu apartamento? 
Aquele que é o bate-cartão dos finais de tarde das sextas-feiras da lamentação. Grande nome esse: sextas-feiras da lamentação! Lembra?
Aquilo é que era felicidade!
[...]

Como você pode estar feliz agora? Como? Não sentes remorso? Que coração é esse que espalha a todos que está bem, muito bem e ainda, feliz? Que não lembra o quanto me fez sofrer, comer o pão que o diabo amassou, correr atrás de outra para te esquecer?
Como?

Não precisa responder. 
Só para de esfregar a sua felicidade em minha cara. Ou se o fizer, que seja pessoalmente. Afinal, você nunca respondeu a minha última mensagem.

domingo, fevereiro 02, 2014

Ao sabor dos dias cinzas

Hoje eu queria o seu céu
Cinza, triste e com leves pontos brancos
Queria a dormência das suas bochechas ao bater da brisa fria no meio da tarde
Queria o vapor que sai da sua boca quando expira cansaço
Queria a dor nas pontas dos dedos
O rubor dos lábios
A secura da pele

Hoje eu queria o seu dia cinza
Hoje.

Amanhã?
Quero meus dias de sol.

quinta-feira, maio 02, 2013

Chuva


Primeiro, o cheiro
Segundo, o toque

Terceiro, o som
Quarto, memória

Quinto, confusão
Sexto,  calefação

Sétimo, céu
Oitavo, dissipação

Nono, desenlace
Décimo, evaporação

terça-feira, março 12, 2013

Diálogo

As palavras quando bem colocadas conquistam. Isto ela sabia muito bem. Sentia-se mestre nas frases de efeito originais e nas saídas estratégicas, respostas para situações de risco e momentos diplomáticos evasivos. A organização das palavras de forma atraente e intrigante era um dos seus desafios favoritos. Este ato, que podia levar dias, era o que a levava correr riscos e lhe dava a sensação de duelo seguro. Até aquela tarde de domingo, que como todas as tardes de domingo trouxe a despretensão e a despreocupação de sermos quem somos sem medir esforços de projeção de imagem.

A traição das palavras começa pelo dia da semana. Ela respondeu a mensagem antes despretensiosa, sem analisar o contexto, entregando-se ao deleite da coloquialidade expressa na sua blusa de flanela, cabelos desgrenhados, hálito de café e cama desarrumada de final de semana. Não levou as armas da retórica consigo. Apenas respondeu. Falou da semana, do dia, da hora, das vontades. Não mediu palavras, nem revisou acentos, encheu de reticências o pequeno texto, sinalizando seus suspiros e paradas não programadas entre um gole e outro. Entregou-se.

Assim, nem percebeu que na resposta da segunda-feira o opositor já possuía seus pontos fracos e imaginava seus pontos fortes. O seu interlocutor já a lia, assim como leu e dissecou todas as suas palavras. Ele era um jogador tão hábil quanto ela e com uma vantagem esmagadora. E ele ganhou o primeiro duelo, a segunda batalha. Empataram a terceira. Na quarta, ela já se sentiu mais segura. Na quinta, ele decidiu recuar, deixando a decisão para a sexta, surpreendendo-se mais uma vez e levando a discussão para o sábado. Então, como em um movimento extremamente calculado, ele desarmou-se e falou sem amarras, deleitando-se na sua coloquialidade de final de semana de quem passeia às 10 da manhã e para em um café, pedindo um pingado e um croissant, com chinelos nos pés, substituindo a sisudez da gravata diária.

Ela, então, o conquistou. Mas ficou tão perplexa com o movimento não previsto que decidiu não finalizar o adversário. Esqueceu-se do domingo. E apenas abriu a guarda para que mais palavras a envolvessem e pudesse montar um contra-ataque fulminante. O contra-ataque não fluiu. As palavras tornaram-se música. E a cada nova linha lida, cada questionamento atrevido ou afirmação blasé, uma nova melodia era iniciada. E tudo se concatenava. E cores brilhavam das crases, das siglas, dos pequenos erros, envolvendo-os num arco-íris de sensações que apenas aqueles que conversam sem amarras compreendem. E tudo era dito, nada esquecido de se compartilhar. 

Mas as palavras traem e o fazem durante os dias da semana. Uma pergunta bem colocada, uma afirmação vazia, um desencontro de informações revelam mais que um emissor pode desejar. Assim, sem a preocupação da construção do discurso, das amarras das regras do jogo, ambos misturaram todas as cores e transformaram a linda sinfonia em um barulho ensurdecedor. Acabaram-se os parágrafos. Não sobrou nem uma linha. Assim, fez-se o silêncio.

terça-feira, fevereiro 19, 2013

A névoa


"Preste bem, meu bem"
Lábios
"Nem tudo é mentira"
Fumaça
"Nem tudo é verdade"
Saliva

"A vida não é única"
Fuligem
"A vida passa"
Zunido
"E termina"
Bebida

Língua
"Não há se"
Lágrima
"Há apenas escolhas"
Olhos
"De ir e vir"
Partida