terça-feira, abril 03, 2007

GULA

Frescor com pequenas gotas de baunilha, seguido de uma explosão de leve azedume e adstringência, toques macios de mel e o uma crespa e fina massa de biscoitos invadem a minha boca. Como uma torta de limão.
Finalizo com a maciez da espuma morna e o amargor de doçura do latte, em pleno inferno astral de shopping center a fim de tarde e percebo que no inferno há, também, um lado bom.
Aquela explosão de sabores não envolveu somente o meu paladar, mas a minha alma. O meu eu, por inteiro, se manifestou em um uníssono vendo e ouvindo um mundo diferente ao meu redor.
O barulho dos pré-adolescentes, o vai e vem de duzentas mil pessoas, o vestido que não podia comprar e me paquerava sem parar, nada mais disso importava. O que era primordial naquele instante era o movimento daquela massa na minha boca que ia se derretendo no calor da minha língua que a absorvia lentamente, como em um beijo, todo o sabor que tinha para me oferecer me atiçando a devorá-la em segundos.
Resolvi me torturar, afinal no inferno, dizem, a tortura é prática, e resolvi me deliciar lentamente com a sobremesa, degustando-a aos poucos, em minutos e agora chamando o olfato e a visão para esse pequeno espetáculo particular que me proporcionava.
Açúcares, lipídios, gorduras trans e não trans me completavam em um ritual masoquista e me faziam entrar em um estado de torpor. O doce, o azedo, o amargo, o frio e o quente, fora, dentro, os contrastes, eu, a torta de limão e o café em um final de tarde no shopping center.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sounds wonderful, makes my mouth water