E a gente contava histórias e não via as horas passarem. E nós bebíamos como se o álcool não fizesse efeito. E nós trabalhávamos. Acredite. Trabalhávamos como workaholics insanos em busca daquilo que chamam de sucesso e que juram que vai nos completar.
Temos sucesso. Temos trabalho – mais ainda. Somos os jovens mais velhos que conheço. E contamos histórias, ainda. Porém as horas passam. O álcool acompanhado do cigarro embriaga. E buscamos ainda o que nos complete.
Beijamos outras bocas. Dizemos “Estou apaixonado”. Brincamos de nos apaixonar. Machucamos os outros, nos martirizando, com medo de nos machucar. Somos secos, frios, calculistas e pensamos mais uma vez que isso vai nos completar.
Vamos a universais, centros espíritas, entoamos ah uns para Buda, cantamos Hare Chrisna, negamos deuses, santos, imagens enquanto meditamos e pedimos que nos salvem. E nossa igreja sagrada de toda semana se torna o bar em que a galera se encontra. E lá discutimos religião, política, até futebol. Sim, nós pensamos. E nos sentimos inteligentes e com sucesso e pensamos que aquilo nos completa.
Idolatramos rifes de guitarra, maconha, velhas idéias, velhos costumes, velhas décadas, nossos analistas e as drogas prescritas que nos trazem a felicidade. Idolatramos, ainda, o novo junk food ianque com seus Ipods, Mac Donalds com vitaminas, café sem cafeína e as tranqueiras das novas velhas índias: chá verde, soja, chinas, mangais, guarda chuvas, CD’s e DVD’s falsificados. E pensamos que isso nos completa, nos faz mais. Isso é sucesso.
Família, Igreja, Política? O que é isso? Isso nos completa? Isso vem de onde? Se compra em algum lugar? Acho que meu psiquiatra me receitou. Ou foi minha analista holística?
Nascemos com tudo que se pode comprar. Não fizemos revoluções, porque estas podem ser encontradas em qualquer camelô. Estão estampadas ou podem ser baixadas para o computador. Tudo está ao nosso alcance, de Kant ao Rei da Pisadinha. Temos mais escolhas, mais caminhos. E pensamos sempre em nos completar e que no sucesso pode estar à solução.
Somos egocêntricos, você pensa. É verdade.
Somos contra todos e todos são contra nós. Somos a geração do tudo pronto, pós fast food, cibernética, pós-modernismo. Somos o que você quer entender. Somos o que queremos entender. Somos os rebeldes sem causa que espancam mendigos, tomam drogas sabendo que fazem mal, que batem carros e que quando chegam a casa, clamam por um pouco menos de mundo e mais de lar.
Somos os filhos dos filhos da geração coca-cola. Somos a geração incompleta perdida entre busca incessante pelo o hoje imediato e o seguro e completo que um dia nos prometeram.
Somos a responsabilidade de amanhã e não nos consideramos melhores do que ontem. Somos todos piores. E não acreditamos em nós mesmos. Seguimos, porque se tem que seguir.
E, velho, a droga do trabalho vicia. Mesmo que seja para nossa infelicidade, perca de horas, perca de papos e álcool.
E é por isso, no fim, somos os workhaholics que buscam o sucesso, pensando que isso vai nos completar.
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