terça-feira, agosto 21, 2007

Carta por você

Então, com aquela brisa morna do Mediterrâneo tocando os seus cabelos e pele queimada de sol, e toda Brindisi nos observando enquanto caminhávamos, percebi que algo havia mudado em você. Seus olhos castanhos, antes tão interessados nas minhas opiniões ou nos meus comentários mais estúpidos, em que você soltava um “bobinho” e beliscava meu queixo enquanto mordia seus lábios.


Foi aí que o rio, tormenta, um rio caudaloso – ah! Sei lá! – de palavras me invadiu, me deixando mais uma vez perplexo com aqueles lindos olhos. E mais uma vez você se disse cansada. Exausta. Exausta de esperar a minha presença permanente, diária. Exaurida por necessitar de meu ombro para chorar nos momentos de problemas e aqueles de solidão, em que você tinha que escutar palavras apressadas ao celular ou soltos e-mails e chats esporádicos.


Andando por Brindisi, naquele fim de tarde, você até parou para comprar um sorvete, E como se não soubéssemos, andávamos em círculos. E dessa vez você não chorou. E nada de escândalos. E nem me perguntou, como tantas outras vezes, porque não me mudava e ficava com você, na cidadezinha que não tinha nada, além da passagem para Grécia e que tanto amávamos.


Então apertei seu fino braço contra o meu, esperando revitalizar você e nosso relacionamento. Olhei novamente nos seus belos olhos castanhos e o nosso não estava mais lá.


Deixei aquele meu lado insistente de lado – e dramático, que você diz que eu tenho, mas que é preocupação, mas você já sabe disso – e decidi não insistir como das outras vezes. Não mandei e-mails, nem liguei desesperadamente e muito menos me deitei em frente a sua casa em vigília perguntando o porquê de tudo ou pedindo para voltar.


Apesar da dor, da melancolia e da vontade de me ajoelhar e me enroscar nas suas pernas fazendo, desta vez eu, um escândalo, preferi manter e me concentrar nos lindos olhos castanhos, que já não eram mais meus. Mas, como precisava escrever, falar com você de alguma forma, não sei a causa e nem tinha assunto – sei é tarde... três, quatro meses? – lembrei do dia que me despedi de você e te encontrei novamente, naquele fim de tarde em Brindisi.

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