terça-feira, outubro 20, 2009

Um pouco de Drummond

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Fonte: Memoria Viva

Via @realwbonner

segunda-feira, outubro 19, 2009

domingo, outubro 18, 2009

Imprevistos

Ele disse que não poderia sair. "Imprevistos, querida, depois nos falamos". Como qualquer mulher, me senti a última da fila em uma daquelas festas de blind dates que agências para solteiros desesperados promovem. "Como assim? Imprevistos?", pensei. E nem uma explicação a mais, nem uma vírgula, ponto parágrafo no diálogo. Morri por cinco segundos.

Depois da pequena sessão vou cortar os pulsos, refleti que nos conhecemos  há apenas duas semanas. E que por mais que eu já tivesse feito planos para a nossa lua-de-mel em Bora Bora, são apenas 14 dias. Afinal, um fora seco, sem criatividade e por telefone na noite de sábado é bem mais interessante que um zigue no domingo, a base de desculpa esfarrapada tipo minha mãe precisa de mim. Afinal, sou jovem, com uma carreira promissora, bonita, e é sábado. 

Alto estima em cima - meu eu interior se sente em uma montanha-russa - e agenda do lado, vou a luta. Percebo que minha agenda está lotada de nomes masculinos. Detalhe: são todos gays. E por mais que ame a companhia deles, hoje, preciso sair para lugares heteros, ou pelo menos que não possuam rótulos, para me sentir um pouco menos rejeitada. A única amiga que conheço solteira, sem filhos e com a possibilidade de saída está em depressão - Ah! L'amour - e só de pensar em convence-la e explicar o meu fracasso em mais um dos relacionamentos relâmpagos, caio em desespero.
Sair sozinha? Não estou tão preparada. Fora que meu horoscopo me alerta sobre possíveis acidentes de carro.

Caminho até a geladeira, pensando na possibilidade de um vinho, por acaso, ainda estar por lá. Não, ele não se encontra. Paquero com o sorvete de flocos. "Uma colherada não mata", afirmo veementemente para as paredes. Gula. Alívio de sensações de fracasso.

Sento-me ao laptop, com o pote devidamente próximo, procurando não olhar as horas, e começo a assistir 500 days with Summer. "Espero que ele morra. Tome um porre, durma na praça, com cachorro lambendo. Seja assaltado. Se apaixone pela maior piriguete do planeta e leve chifradas homéricas". Choro ao final clichê "Hi! My name is Autumn", procurando, pela milésima oitava vez, em minhas caixas de entrada por mensagens dele dizendo que sente saudades ou que precisa de mim, nem que seja para trocar o pneu furado.

Não, não

Existem diversas maneiras de dizer não. As educadas, as sutis, as diretas, etc, etc. Porém, também, existem as maneiras de convencimento, que vem logo após o não. E essas parecem sempre estar localizadas nas entrelinhas, envolvidas em ondas de charme e boa lábia. As boas, claro. Já que a insistência pode levar a um não eterno e sem possibilidades de talvez.


Por que sempre a guerra não para na primeira batalha perdida? Por que temos sempre que nos guiar pela filosofia norte-americana do I am not a looser? Somos instigados a prosseguir, mesmo que a situação depois nos pareça um tremendo problema como resultado.


Exemplo? Dê um fora em uma mulher, caro amigo, que ela o seguirá por toda uma eternidade, ganhando pequenas batalhas, como pequenos encontros a meia noite do domingo, uma pizza ou o sanduba do sábado, e sendo instigada a cada bateria de celular arriada, e-mail não respondido e “não quero nenhum relacionamento sério”.

Ou ainda, cara amiga, quando você diz ao cara com quem você mantém na geladeira que você e ele são ótimos amigos e que você preza mais o sentimento fraternal que o sexo, e ele te manda flores, te convida a conhecer os amigos e amigas ou, de repente, te chama para o almoço de domingo da mamãe.


O grande problema da insistência após o não é como ela é montada para fazer com que cedamos mais uma chance. Pensarmos em “Já fiz antes, mais uma vez não faz mal”. E ao fim, ficarmos esgotados de desligar telefones, transferindo ligações, matar parentes descaradamente e nos culpar – se você for mulher e tem sentimentos de mulher – por fazer mais uma pessoa de pneu step ou viver uma coisa que desde o início não estava em seus planos.


Por isso, caro leitor, quando pensar em não, esqueça do talvez. E se sim, espere a conseqüência de um futuro não. Sabe, ao final, melhor dizer quem sabe e ver o caminho que se segue.