quarta-feira, junho 28, 2006

Pergunta da semana

Falar de amor é fácil. Todo mundo tem aquela história do pé na bunda
inesquecível, do amor platônico, do cafageste, da indecisa.Mais o que é
amor?

Para ciência, o impulso elétrico que a visão invertida , já não
mais, os olhos transparecem.

Para os corações mais contidos aquele comichão
que dá quando o ser amado aparece. Para os mais atirados, um grito, um porre, um
choro descontrolado em meio a festa lotada. Para os modernos, uma balada de
acid jazz.

Amor é, para a pobre autora, um procurar incessante em meio a
escuridão. Um tatear constante no nada. Será que é?

O_O Incognito- I love what do you do for me

terça-feira, junho 20, 2006

Rewind

Ele me disse o adeus. Foi mais uma daquelas longas e difíceis despedidas que temos todas as noites, ou tardes, quando nos encontramos. Ele me contou sobre o seu dia, de como foi chato, estafante, sem novidades e disse, como sempre e meio mecanicamente, que o meu deve ter sido muito melhor e muito mais interessante.
Eu, bem eu, disse a verdade,que no meu dia não houve nada de diferente de ontem, que hoje choveu e que esqueci mais uma vez de pagar a conta do cartão de crédito.
No ar pairava aquela nostalgia. No olhar aquela melancolia misturada com desejo. E que vontade de abraça-lo. E que vontade de dizer que não acabou. Mas como sempre nos olhamos, fingimos que a atmosfera não era aquela e seguimos com o papo insoso, fingido ser interessante. E talvez fosse. Mas a atmosfera era bem mais do que nossa conversa.
E acabou o assunto, como em qualquer conversa trivial que temos com a vizinha chata.
Ele disse que estava muito cansado. Hoje teve jogo da seleção. Meio expediente, o jogo foi uma merda, mais cerveja, amigos, sabe como é. E como sei. Eu vi o jogo também e não achei tão ruim assim, disse eu, tentando prolongar a discussão. Mas realmente, era hora de ir. O ar já estava insuportável, a distância já estava próxima demais. Perigo. E ele tinha tomado umas cervejas.
Então aquele olhar desconcertado, aqueles dois beijinhos na bochecha e um sonhe comigo.
????????????????????????????
Esse sonhe comigo não estava no script. Pelo menos não no dos nossos encontros. E agora?
Bochecha com bochecha, meu Dolce Gabanna misturado com o hálito de cerveja. A respiração dele. A minha falta de ar. E agora? Finalmente a resposta: "Você tem certeza?"
Bochecha direita agora. Minha respiração já está forçada e a dele cessa. A minha réplica: " Por que não teria?"
Já respiramos melhor. Ele ri. Eu também. E voltamos ao script original: ele me disse o adeus. Foi mais uma daquelas longas e difíceis ...

Desculpas pra nada

A chuva parou. O sol se põe dando ao céu aquela coloração alaranjada que nunca se repete. As nuvens, agora brancas, se espalham pelo azul e laranja: um toque paralisador ao movimento das horas.Elas parecem não se mexer, contrastando com as buzinas, fumaças e cositas más que observo, querendo prolongar as horas, da minha varanda.
Prolongar as horas para dizer que o dia valeu a pena, que a coisa mais proutiva que fiz não foi somente um rabisco no papel.Aumentar os minutos para dizer a mim mesma que sim, fui ao supermercado, comi coisas saudáveis e terminei de ler Crime e Castigo.
Mais tempo para analisar os meus projetos, revisar as pesquisas, medir, pensar, ponderar e agir.Fico estática olhando para as nuvens tão estáticas quanto eu, tomo um gole de café e penso que a idéia de não produtividade é boa. e que esse sentimento de culpa é resultado da minha maneira mecânica de agir pensando que devo agir.
Me sinto tensa por não ter feito nada. E nem estou de férias.
O mundo parece recomeçar na segunda-feira e eu observo as nuvens pensando no gosto do meu café.

o_o Portishead- Roads

segunda-feira, junho 19, 2006

Pergunta da semana

"... vale mais ter chaves do nada
ou uma fechadura sem chave, um enigma de abertura?"
José Machado Pais

domingo, junho 18, 2006

Que coisa engraçada! Depois de um ano sem postar, redescubro que tinha um blog. Então por que não usa-lo.
Vou postar aqui textos que escrevo semanalmente e mando para amigos, que os avaliam. O blog vai deixar de ser tão biográfico como era o ano passado heheh
Aqui vai o primeiro:

Memória gustativa
Acordei com seu gosto.
Aquele gosto que você deixa quando me beija, lenta e misteriosamente.
Aquele gosto que tento decifrar com minha língua, com meus toques, com meu calor.Acordei com seu gosto, que não é de quero mais, é de especificidade.
Aquele gosto daquele momento. Aquele momento que sabemos que só é nosso.
Um gosto que nem mesmo as mais doces e amargas palavras podem descrever.Um gosto doce, suave, que me consome, que me abstrai.
Um gosto que quero agora e que só de pensar me deixa com água na boca.E que me consome. E que não se torna mais suave, porque a minha loucura pelo seu gosto não é tão suave assim.E que ainda me abstrai, porque me olho no espelho e vejo teu reflexo. Vejo tua boca na minha.
E sinto ainda teu gosto e que não quero lembrar mais.Ah! Teu gosto!
Tomo café, como o pão, escovo os dentes, gargarejo, faço o escambal e ele continua lá. Não luto mais. Deixo me levar por essa misteriosa lembrança. Uma lembrança minha e de mais ninguém.
De um momento nosso. De uma particularidade sua. Do seu gosto na minha boca.E a manhã se vai, o dia passa, a noite chega e o seu gosto vai. Fica perdido entre um compromisso e outro, no ponteiro do relógio e vira assim mais uma sensação do meu dia.
Sentada, perante a tela branca, penso e tento recordá-lo. Mas ele já é lembrança, como nós dois.

14/6/2006. 22:58