terça-feira, novembro 07, 2006

ELE FUGIU

Acordei desesperada para escrever para o meu diário hoje, mas onde ele estava? Com certeza, pensei, embaixo da cama, lá embaixo tudo se acha. Mas não, ele não estava. Na sala? Não. Cozinha?Armários? Banheiro? Computador? Não. Não. Não. Não!
Depois de uma semana sem ter contato com o meu caderninho, tão pouco tempo e ele se perde de mim. Perdi meu diário.
E com ele se vão meus pequenos souvernirs cheios de traumas, alegrias, lágrimas, álcool, cigarros, meditações, rímel, batom, beijos e carícias e papos cabeças.
Sem ele comecei a sentir um vazio – e ainda sinto – e comi tudo que podia e não podia, quebrando minha dieta mais uma vez, só me estafando e não preenchendo nada além do estômago, claro.
Parei, refleti: “Era só um diário entupido com coisinhas clichês, afinal”.
Vai ver ele fugiu. Estava cansado de agüentar a minha letra pesada, desenhada ou os rabiscos ou as lágrimas ou as essências de perfumes. É... Ele correu de mim e da minha insistência em cobrar mais dos outros e de mim mesma e da minha insistência em escrever mais coisas tristes e depressivas que alegres e animadoras.
Ele correu do meu ciúme insano, que vem e vai como as ondas do mar. Das minhas lamúrias infundadas sobre amores infundados e da velocidade de movimento de rotação do meu humor.
Ele está me evitando. Até os diários merecem um tempo.
Ele realmente fugiu.
Eu fujo de mim mesma, por que não meu diário?
Mas e agora?
E eu e meu vazio? Que faço?
É né... Segue-se em frente.
o_o Resposta - Milton Nascimento

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