sexta-feira, outubro 19, 2007

Teatro de bairro dá certo

Fazer teatro de bairro, local, sem muita verba ou patrocínio pode dar certo? Percebi que sim, ao assistir “Máscaras”, do grupo Taty Produções Artísticas, do bairro de Tibiri II, em Santa Rita, semana passada, no Teatro Santa Roza. O texto é um clássico de Menotti Del Picchia, de um lirismo ímpar; a direção de Ivonaldo Rodrigues, trazendo no elenco José Hilton, como Arlequim, Adones dos Santos, no papel do Pierrot, Suéllen Cavalcante como Colombina, e Lindo Silva, o Cupido.

Pela descrição dos personagens, para os que não conhecem, percebe-se que Del Picchia aborda um triângulo amoroso, onde encontros e desencontros – como em toda história de amor – nos fazem refletir sobre o ideal do ser amado e sobre o desejo humano. No centro da disputa amorosa, vemos uma Colombina meiga e indecisa, diria até um tanto pós-moderna, se debatendo em dúvidas: preferiria a poesia do Pierrot ou a “pegada” do Arlequim.

Os atores principais possuem falas longas, mas belíssimas e em nenhum momento enfadonhas. Um incrível exercício de respiração, concentração e esforço que resultam em um belo espetáculo. A direção dos atores é primorosa, com direito a acrobacias intercaladas a falas, o que compensa a pobreza de cenário e iluminação.

A sonoplastia deixa a desejar. Músicas de carnavais da década de 1920 vêm à tona sem muita necessidade. Às vezes o silêncio basta – além de ser mais elegante como os antigos carnavais. Mas nada que quebre o andar do espetáculo, que por sinal é curtíssimo, quase um pocket show: 40 min.

Assim, ficou provado para mim, pelo menos, que uma boa direção aliada a bons atores e atrizes pode sim dar certo com verba reduzida. Iluminação simples, cenário praticamente inexistente não deixam a beleza do teatro se esvair, sendo ele no Rio ou em Tibiri II.

Pena que, mesmo com um ingresso a cinco reais, a população não compareça ao Santa Roza, que ajuda com toda sua arquitetura qualquer peça virar um espetáculo.

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